mudando para não mudar.

Friday, January 07, 2011

O pássaro careca

atenciosamente, busco a borda que separa este minuto dos antigos. Sem muita convicção, passo com o dedo pelo relevo sensato dos fatos. Sem camisa nem muita moda, passo sabendo só o que não tenho. Passo falso, feio, perplexo por entre as gentes. Faz frio como fez ontem: eu, hermético,nao prossigo, digo o que nao quero, que é pouco e é, todavia, intoleravel, e parece inevitavel. Percorro aquelas linhas como um passaro enregelado sobre o fio de alta tensao do nosso cotidiano; cisco desconfiado as migalhas do seu amor, sabendo mais do que devia (e nao paguei) que do sabor; seria bolo? Biscoito? Ciabatta (de que nao gostas)?
como posso sobrevoar este campo cinza e dourado, se te amo tanto e se teu amor nao conhece outra delicadeza firme alem do chumbo do ceu e da espingarda? como posso habitar uma cidade onde seus fios eletricos, em minha proximidade, armam-se em promiscuas ciladas de entrelacos - nunca pousar um pé em cada um, esse alvoroço muito suave que precede o eletrochoque quando me sei prestes a desafiar as leis da fisica e do nosso convivio. Este é o seu universo, está escrito (em letras apagadas mas em todos os postes). Ao longo dos meses desenvolvo um soluço nervoso que torna hilárias minhas tentativas de argumento. Não por eu me dirigir aos objetos deste campo (pedra, grão de trigo, fiação constipada); não que você, onde quer que esteja de fato, morra de rir (ouço certa turbulência no vento, não nego); mas que um pássaro careca com soluços é, ou deveria ser em algum lugar, hilário.
(10/10/2010)

Thursday, August 31, 2006

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